terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A GRUTA DA BEIRA DO LAGO

                          A Gruta da Beira do Lago
Resistência francesa


A missão estava sendo bem sucedida. Era hora de bater em retirada. Os
ataques aos inimigos tinham que ser rápidos e causar estragos e baixas
já que a resistência contava com poucos camaradas. Dois amigos tinham
sidos friamente eliminados por um dos soldados nazista. Jean Anael se
embrenha pela floresta. Corre para o caminho da gruta da beira do Lago
que tinha visto em uma das suas caminhadas de reconhecimento. Lugar
ideal para se esconder dos adversários. De repente vários clarões e
tiros de metralhadoras. As balas dos adversários o cercavam. As
granadas caiam ao seu redor, porém nada tinha o poder de atingi-lo.
Jean sentiu que algo o protegia. Tentou gritar por socorro. A palavra
ficou presa à garganta A gruta da beira do lago estava a poucos
metros. Era a sua salvação. Novos clarões dos tiros das metralhadoras
varreram com suas balas ao redor causando estragos nas folhagens. Uma
força tomou conta dele. Lembrou-se do salmo que lia para o filho na hora
de dormir;



´´O senhor é a minha salvação;
De quem terei medo?

Ainda que um exército
Se acampe contra mim não se atemorizará
O meu coração;
Ouve Senhor, a minha voz!

Não me escondas a tua face;
O grito? Sim o grito! Ainda estava preso a garganta. Até que a palavra
se manifestou.

-Meu Deus, salve-me!
Diante de Jean Anael surge por trás de uma árvore um vulto negro.

--Senhor, salve-me!
O soldado nazista respondeu com vários disparos.Jean cai atingido pelo
adversário. Na sua mente escuta as palavras;

´´Tu és o meu auxílio,
Não me recuse
Nem me desampare.
Ó Deus da minha salvação.

Acordou na madrugada dentro de uma cova aberta. No entanto vivo!
Depois chorou e adormeceu de dor. Veio o novo dia.

Jean estava sem forças. Seus ferimentos precisavam ser tratados para
não morrer naquela cova. Anoiteceu. Ouviram pisadas firmes e compassadas·com o seu coração. Emitia algo de suave, como se nem a morte que estava à ronda alteravam a determinação daqueles passos.

 A sua cabeça não poderia suspeitar quem realmente se aproximava dele.
Percebeu na estranha claridade a imagem de um homem com vestes simples
de camponês. Abaixou até Jean. Olhou para ele e disse sorrindo:


-Depois de tanto tempo rapaz, finalmente me encontrou? Fique tranquilo
está oculto dos olhos dos adversários.

-De onde vem senhor?
-- Na verdade estou indo.
-- Conseguiu  ver todo o ataque?
- Sim! Foi terrível!Estava junto de você  no momento em que correu para a
gruta da beira do lago.
- Podes ver tudo mesmo?
- Sim! Tudo!
-Fui surpreendido pelo soldado que fez vários disparos sobre mim. Por
milagre, atingiram somente as minhas pernas? Eu não acredito em
milagres e sim que o maldito tinha mesmo uma péssima pontaria.
- Naquele instante estava um pouco a sua  frente.


Respondeu o homem.

-Quanto à pontaria... Acho que sei por que ele não te acertou. Mas
isso não importa. Venha comigo. Vou levá-lo a gruta da beira do lago
para tratar suas feridas.
Ele inclinou-se, e colocou-o nos braços e o levou para o lago. Anael desmaiou de dor.
 Quando recobrou a consciência estava na gruta. O camponês lavava os ferimentos. Perguntou para Jean.

- Acordou meu filho?
-- Que sono profundo. É bom estar desperto!
-Sente muitas dores em suas feridas?
-- Senhor sentia nos ferimentos dor insuportável!Confesso com
alegria e espanto, que não sinto dor alguma agora. Nem das que senti a vida
inteira. Não posso explicá-lo, contudo a felicidade desse momento.



Cada vez que lavava os ferimentos parecia retirar não só a terra
misturada com sangue mais libertava outras dores de sua vida. Por fim
adormeceu. Quando acordou levantou-se e saiu da gruta a procura do
camponês para agradecê-lo. Olhou e o viu na beira do lago em silencio.
Para seu espanto o camponês estava ferido. Das Suas mãos postas em
oração escorriam gotas de sangue.


-Meu Deus, você também está ferido? E não é só um mais têm vários
ferimentos pelo corpo.


--São feridas tão antigas que já não me maltratam. Na vida quem não as tem?

Jean Anael di Santa Ana continuou assustado ao ver nos pés do camponês
ferimentos feitos com crueldade.
Foi quando o homem  levantou-se dizendo:


-Durma na gruta da beira do lago para recuperar as suas forças..

__Senhor, agradeço por salvar-me e curar minhas feridas.
--Bem, vou partir. Olhe vou deixar
contigo uma peça preciosa. Um dia voltarei para buscá-la. Ela está
envolvida em uma bata de linho branco lá na gruta. Use-a no momento
preciso e com sabedoria.


Estendeu as mãos feridas para se despedir. Ao pegá-las Jean Anael
percebeu que o conhecia.

 Adormeceu. No outro dia ao acordar estava deitado debaixo de uma
árvore. Levantou-se e foi à procura da gruta da beira do lago e não
encontrou nada.
Ouviu gritos de suas amigas da resistência.

- Ane, corra até aqui!
Ana o vê corre  para abraçar o seu grande amor!
Os dois se abraçam e se beijam.
As aves cantam uma canção de reencontro e renascimento.